domingo, 7 de outubro de 2012

Ministro Joaquim Barbosa, nossa referência.

"Todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras", diz Joaquim Barbosa, relator do Mensalão


Foto: Lula Marques/Folhapress

"A imprensa brasileira é toda ela branca, conservadora. O empresariado, idem". "Todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras."
"O Brasil ainda não é politicamente correto. Uma pessoa com o mínimo de sensibilidade liga a TV e vê o racismo estampado aí nas novelas."
"O racismo parte da premissa de que alguém é superior. O negro é sempre inferior. E dessa pessoa não se admite sequer que ela abra a boca. 'Ele é maluco, é um briguento'. No meu caso, como não sou de abaixar a crista em hipótese alguma...”.
Essas são algumas das declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, relator do processo do Mensalão, publicadas neste domingo, 07/10, na coluna de Mônica Bergamo da Folha de São Paulo.
Nascido em Paracatu, no interior de Minas, filho mais velho de uma mãe dona de casa e um pai pedreiro, o magistrado conta ao jornal paulista que teve uma infância pobre e o racismo apareceu em sua "infância, adolescência, na maturidade e aparece agora". Para ele, o racismo se manifesta em "piadas, agressões mesmo". "O Brasil ainda não é politicamente correto. Uma pessoa com o mínimo de sensibilidade liga a TV e vê o racismo estampado aí nas novelas". Já discutiu com vários colegas do STF. Mas diz que polêmicas "são muito menos reportadas, e meio que abafadas, quando se trata de brigas entre ministros brancos".
Segunda a coluna da Folha, há 30 anos, já formado em direito e trabalhando no Itamaraty como oficial de chancelaria, prestou concurso para diplomata. Passou. Foi barrado na entrevista.
Na entrevista, Joaquim Barbosa conta ainda detalhes da sua infância, com oito irmãos, e das referências recebidas do pai. "Ele era aquele cara que não se submetia. Tinha temperamento duro, falava de igual para igual com os patrões. Tanto é que veio trabalhar em Brasília, na construção, mas se desentendeu com o chefe e foi embora", lembra Joaquim.
O pai vendeu a casa em que morava com a família e comprou um caminhão. Chegou a ter 15 empregados no boom econômico dos anos 70. "E levava a garotada para trabalhar." Entre eles, o próprio Joaquim, então com 10 anos.
Cursou direito na Universidade de Brasília, de 1975 a 1982, trabalhou na composição gráfica de jornais, no Itamaraty. Ingressou por concurso no Ministério Público Federal. Tirou licenças para fazer doutorado na Universidade de Paris-II. E passou períodos em universidades dos EUA como acadêmico visitante em centros acadêmicos como a Universidade da Califórnia, Los Angeles. Fala francês, inglês e alemão.

Na reportagem da Folha de São Paulo, Joaquim Barbosa revela sua "imparcialidade e equidistância em relação a grupos e organizações", compravas pela participação do magistrado em julgamentos diversos, envolvendo partidos de diferentes posições políticas, como o PP paulista de Paulo Maluf, o PSDB mineiro de Eduardo Azeredo e, agora, o PT nacional de José Dirceu e José Genuíno.
Joaquim Barbosa também deixa claro seu distanciamento pessoal do poder. "Vi o Lula pela primeira vez no dia do anúncio da minha posse. Não falei antes, nem por telefone. Nunca, nunca." Depois, continuou distante de Lula. Não foi procurado nem mesmo nos momentos cruciais do mensalão. "Nunca, nem pelo Lula nem pela [presidente] Dilma [Rousseff]. Isso é importante. Porque a tradição no Brasil é a pressão. Mas eu também não dou espaço, né?".
Mas faz elogios aos “avanços inegáveis” trazidos pelo Governo Lula, a quem deu o seu voto em três eleições, além de votar em Dilma em 2010. E declara à jornalista Mônica Bergamo: "Vou te confidenciar uma coisa, que o Lula talvez não saiba: devo ter sido um dos primeiros brasileiros a falar no exterior, em Los Angeles, do que viria a ser o governo dele. Havia pânico. Num seminário, desmistifiquei: 'Lula é um democrata, de um partido estabelecido. As credenciais democráticas dele são perfeitas'."
Perguntado se teria o prazer em condenar (herança dos tempos de atuação no Ministério Público), o magistrado nega:
"É uma decisão muito dura. Mas é também um dever". "O problema é que no Brasil não se condena", diz. "Estou no tribunal há sete anos, e esta é a segunda vez que temos que condenar. Então esse ato, para mim e para boa parte dos ministros do STF, ainda é muito recente."
Sobre a possibilidade do julgamento do Mensalão, com vigilância e punição, ser um fato isolado na justiça brasileira, sem transformação na cultura jurídica do país, Joaquim Barbosa é enfático: "Não acredito. Haverá uma vigilância e uma cobrança maior do Supremo. Este julgamento tem potencial para proporcionar mudanças de cultura, política, jurídica. Alguma mudança certamente virá".
A entrevista à Folha termina com o ministro dizendo que não gosta de ser tratado como "herói" do julgamento. "Isso aí é consequência da falta de referências positivas no país. Daí a necessidade de se encontrar um herói. Mesmo que seja um anti-herói, como eu".


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Um comentário:

  1. Há muitos "Joaquins" nas salas de aula da escola pública;nos presídios, nas instituições corretivas; sob as marquises...a tristeza é saber que neste século e para outros além,os não-joaquins com medo e tenacidade exterminarão muitos deles,porque em terra de "Lewandowskis", os "Joaquins "não fazem verão. São nuvens cansadas e passageiras. Façamos a nossa parte!

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