terça-feira, 22 de maio de 2012

REPORTAGENS RACISTAS E XENOFÓBICAS

A REDE RECORD, MAIS UMA VEZ, PASSA A EXIBIR UMA SÉRIE DE  REPORTAGENS RACISTAS E XENOFÓBICAS SOBRE O CONTINENTE AFRICANO. DESSA VEZ APRESENTARÁ MALI COMO UM PAÍS ONDE NÃO HÁ CIVILIZAÇÃO.

GERALMENTE ELES ENVIAM UM REPÓRTER BRANCO COM POSTURA DE SUPERIORIDADE INTELECTUAL E CULTURAL.

CERTAMENTE A REPORTAGEM NÃO FALARÁ SOBRE O GRANDE IMPÉRIO DO MALI E SEU LEGADO HISTÓRICO PARA A HUMANIDADE.
TAMBÉM NÃO FALARÃO QUE OS FRANCESES COLONIZARAM O PAIS POR QUASE 80 ANOS, ROUBANDO SUAS RIQUEZAS MINERAIS; DIZIMANDO SUA CULTURA, QUANDO IMPÔS O IDIOMA FRANCÊS COMO A LINGUA OFICIAL DO PAÍS.
(SE FALAREM, OBVIAMENTE NÃO DARÃO A IMPORTÂNCIA DEVIDA)

NA REPORTAGEM DE HOJE, 22/05/2012, ELES FALARAM SOBRE UMA POPULAÇÃO POBRE; QUE AS CRIANÇAS TRABALHAM NO GARIMPO PARA AJUDAR NO SUSTENTO FAMILIAR, E QUE POR ISSO NÃO ESTUDAM.

PERGUNTO: 
EM QUE O BRASIL SE DIFERENCIA DESSA REALIDADE?
QUAL O NIVEL DE ESCOLARIDADE DAS NOSSAS CRIANÇAS NEGRAS EM COMPARAÇÃO ÀS CRIANÇAS  BRANÇAS?
QUAL O PERFIL DOS ANALFABETOS BRASILEIROS?
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA NO BRASIL?QUEM SÃO OS "NOVOS SENHORES" E OS "NOVOS ESCRAVOS"?
ONDE ESTÃO LOCALIZADAS AS MORADIAS DOS NEGROS BRASILEIROS?

MESMO ASSIM "ELES" QUEREM REALIZAR UMA ESPÉCIE DE COLONIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA NA ÁFRICA, ATRAVÉS DE UM CRISTIANISMO DETURPADO. UM CRISTIANISMO QUE SEGREGA. UM CRISTIANISMO QUE MOSTRA QUE DEUS "FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS", E ESSAS PESSOAS SÃO NEGRAS. MAS NÃO É ISSO QUE APREDEMOS NA FIEL PALAVRA DE DEUS.

POR ISSO ENTENDO QUE NÓS, EDUCADORES NEGROS OU NÃO, QUE NOS DECLARAMOS EVANGÉLICOS, PRECISAMOS COLOCAR EM PRÁTICA A LEI 10.639/03. DEVEMOS ESTAR ATENTOS À ESSE TIPO DE REPORTAGEM QUE EM NADA CONTRIBUE PARA O NOSSO CONHECIMENTO HISTÓRICO; QUE MUITAS VEZES É UMA ARMALDILHA QUE FOMENTA, TAMBÉM, A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.

"E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará."(João 8.32)
 

                                                                      TIMBUKTU








Timbuktu, localiza-se no centro do Mali. Apesar de não mostrar o esplendor da sua época áurea, no século XIV e estar a ser engolida pela areia do Saara, ainda tem uma importância tão grande que foi inscrita pela UNESCO, em 1988, na lista do Património Mundial. A prestigiada universidade alcorânica de Sankoré, onde 50 mil sábios muçulmanos ajudaram a espalhar o Islão através da África Ocidental, ainda funciona, embora com um número mais reduzido de apenas 15 mil estudantes. Timbuktu alberga ainda o famoso Centro Ahmed Baba, com a sua fantástica colecção de 20 mil manuscritos árabes antigos, que retratam mais de um milénio de conhecimento científico islâmico. A cidade tem três mesquitas principais, Djingareyber, construída de barro, em 1325, Sankoré e Sidi Yahia. Timbuktu foi fundada cerca do ano 1100 pela sua proximidade com o Rio Níger, para servir às caravanas que traziam sal das minas do deserto do Saara para trocar por ouro e escravos, trazidos do sul por aquele rio. Timbuktu atingiu o seu apogeu sob o Império Songhay, tornando-se um paraíso para os estudiosos e a capital espiritual dos finais da dinastia Mandingo Askia (1493-1591). Timbuktu que foi habitada por muçulmanos, cristãos e judeus durante centenas de anos, foi sempre um centro de tolerância religiosa e racial. As culturas locais, songhai, tuaregue, árabe e moura misturaram-se, mas conservaram as suas distintas tradições. Essa idade de ouro terminou no século XVI, quando um exército marroquino destruiu o Império Songhay. O domínio do comércio com África pelos navegadores europeus foi mais uma razão para o declínio de Timbuktu.











domingo, 20 de maio de 2012

A historiografia brasileira e o silêncio da escrita negra

Oi, pessoal!

Estou sem muito tempo para escrever, pois preciso terminar minha monografia. Estou concluindo uma especialização em Educação de Jovens e Adultos, na FACED/UFBA, que comecei em 2010.  Escolhi o tema Juventude Negra na EJA, trazendo a experiência de uma turma de EJA no Projeto em que trabalho.

Mas como não podia ficar tanto tempo sem fazer minhas reflexões, ao ler um parágrafo de um livro muito bom, então não resisti e aqui estou eu.

As vezes eu me acho um pouco radical em relação a algumas questões, como por exemplo: a academia só me apresentar teóricos brancos. No curso de História, perguntei a um dos meus professores(ele era italiano) se não trabalharia com nenhum teórico negro brasileiro. E ele automaticamente me respondeu com outra pergunta: E no Brasil tem algum teórico negro? Me mostre um! Eu fiquei irritada, mas não sabia dizer quais intelectuais negros existiram no Brasil no século XIX.
Na especialização em EJA, fiz a mesma pergunta e me deram a mesma resposta. Mas ai eu já tinha o que dizer.

Em dezembro de 2010, comprei o livro  NEGROS E PÓLITICA(1888-1937), de Flávio Gomes. E sempre que preciso, recorro a ele para embasar minhas respostas sobre a produção intelectual do negro.
Vale a pena ter na sua estante. O livro traz informações preciosas no que diz respeito a atuação do negro na escrita e politica no Brasil do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.
 
Em um dos parágrafos, GOMES, fala sobre a armadilha da historiografia brasileira em silenciar a escrita negra, já que final do século XIX, vários jornais foram criados por liderenças negras e  voltados à comunidade negra.

"Este detalhe delimita de maneira nítida as diferenças quanto às formas de compreender a cidade, a sociedade brasileira e os próprios sujeitos, autores e leitores desses jornais. E também nos ajuda a escapar de armadilhas cuidadosamente preservadas por determinada parcela da historigrafia brasileira: a suposta ausência ou silêncio das fontes e a inexistência de documentos escritos sobre a população negra no Brasil pós-abolição. Ajuda, sobretudo, a entender como um segmento da população negra brasileira percebeu, concebeu, projetou, construiu e, em outros momentos, iniciou a desconstrução de sua própria imagem e presença na sociedade." (GOMES. 2005, p. 34).

E ai, o que você achou dessa citação?

Eu, particularmente, quando leio textos como esses, fico mais alerta.

P.S: Gente, eu não estou fazendo propaganda do livro não, viu? Nem conheço o autor. Mas entendo que cada vez mais precisamos compartilhar conhecimento. Principalmente nós, mulheres negras e homens negros, que se aventuram na escrita.

Agora voltarei à minha monografia. Falta pouco pra acabar.
Rsrsrsrs


Fiquem na paz de Cristo!

Uma semana abençoada pra tod@s nós.

domingo, 6 de maio de 2012

Pioneiro da Psicanálise no Brasil era Negro e Baiano

Juliano Moreira foi um psiquiatra negro frente ao racismo
científico

6 de maio é o dia do Psicanalista e Juliano Moreira é considerado o pai da Psicanálise Brasileira.



 
Juliano Moreira (1873-1933), baiano de Salvador, é freqüentemente designado como fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil. Sua biografia justifica tal eleição: mestiço (mulato), de família pobre, extremamente precoce, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia aos 13 anos, graduando-se aos 18 anos (1891), com a tese “Sífilis maligna precoce“. Cinco anos depois, era professor substituto da seção de doenças nervosas e mentais da mesma escola. De 1895 a 1902, freqüentou cursos sobre doenças mentais e visitou muitos asilos na Europa (Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Escócia).1
De 1903 a 1930, no Rio de Janeiro, dirigiu o Hospício Nacional de Alienados. Neste, embora não fosse professor da Faculdade de Medicina do Rio, recebia internos para o ensino de psiquiatria. Aglutinou ao seu redor médicos que viriam a ser, eles também, organizadores ou fundadores na medicina brasileira, de diversas especialidades: neurologia, psiquiatria, clínica médica, patologia clínica, anatomia patológica, pediatria e medicina legal, tais como Afrânio Peixoto, Antonio Austragésilo, Franco da Rocha, Ulisses Viana, Henrique Roxo, Fernandes Figueira, Miguel Pereira, Gustavo Riedel e Heitor Carrilho, entre outros.2
Um aspecto marcante na obra de Juliano Moreira foi sua explícita discordância quanto à atribuição da degeneração do povo brasileiro à mestiçagem, especialmente a uma suposta contribuição negativa dos negros na miscigenação. A posição de Moreira era minoritária entre os médicos, na primeira década do século XX, época em que ele mais diretamente se referiu a esta divergência, polemizando com o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Também desafiava outro pressuposto comum à época, de que existiriam doenças mentais próprias dos climas tropicais.3,4
Convém ressaltar que a teoria da degenerescência nunca seria colocada em questão por Moreira, mas apenas os seus fatores causais. Para ele, na luta contra as degenerações nervosas e mentais, os inimigos a combater seriam o alcoolismo, a sífilis, as verminoses, as condições sanitárias e educacionais adversas, enfim; o trabalho de higienização mental dos povos, disse ele, não deveria ser afetado por “ridículos preconceitos de cores ou castas (…)”.4
Em seu discurso de posse, ao ser aprovado no concurso para professor da Faculdade de Medicina da Bahia, em maio de 1896, Moreira descreveu de forma tão elegante quanto contundente o que parece ser sua experiência pessoal com relação ao marcante preconceito de cor na sociedade brasileira de então. Endereçando-se “(…) a quem se arreceie de que a pigmentação seja nuvem capaz de marear o brilho desta faculdade (…)”, disse: “Subir sem outro bordão que não seja a abnegação ao trabalho, eis o que há de mais escabroso. (…) Em dias de mais luz e hombridade o embaçamento externo deixará de vir à linha de conta. Ver-se-á, então que só o vício, a subserviência e a ignorância são que tisnam a pasta humana quando a ela se misturam (…). A incúria e o desmazelo que petrificam (…) dão àquela massa humana aquele outro negror (…)”2 (págs.17-18).
Resumidamente, pode-se dizer que, de meados do século XIX até cerca de 1910, o país se definia prioritariamente pela raça, isto é, as discussões sobre o caráter nacional e o futuro da nação passavam pela solução dos problemas atribuídos à miscigenação do povo brasileiro. A partir da década de 1910, e especialmente após o fim da Primeira Guerra Mundial, o movimento pelo saneamento rural do Brasil ganhou força, e se deslocou o foco para a doença ou as doenças dos brasileiros. Um Brasil desconhecido seria revelado a partir de expedições de órgãos do governo, como as de Cândido Rondon, do Mato Grosso ao Amazonas, em 1907 e 1908, e as expedições científicas de Oswaldo Cruz. A famosíssima frase do médico Miguel Pereira, “O Brasil é um imenso hospital”, dita em 1916, marcou o início deste movimento. A exprobração à mestiçagem e ao nosso clima tropical cedeu lugar à condenação ao governo por abandonar as populações interioranas; seu atraso passou a ser atribuído ao isolamento geográfico e às infestações por doenças parasitárias, especialmente ancilostomose e doença de Chagas. Ao mesmo tempo, intensas campanhas sanitárias eram coordenadas por Oswaldo Cruz, contra a febre amarela e contra a varíola, doenças que espantavam muitos visitantes e imigrantes do Brasil. A doença tornou-se a chave para a identificação do Brasil, a higienização sua possibilidade de redenção.5 A ciência, mais especificamente a medicina, tendeu, então, a se auto-representar como norteadora do processo de definição da nacionalidade e da modernização do país.6
O contexto político e cultural de sua época deve ser considerado quando se analisa a obra e a atuação de Juliano Moreira. Ele alinhou-se às correntes que então representavam a modernização teórica da psiquiatria e da prática asilar. Demonstrou isto em sua filiação à escola psicopatológica alemã ¾ foi divulgador da obra de Kraepelin ¾ e nas mudanças que introduziu quando assumiu o Hospício Nacional de Alienados.
Como ele mesmo descreveu, foram estas as mudanças: instalação de laboratórios de anatomia patológica e de bioquímica no hospital; remodelação do corpo clínico, com entrada de psiquiatras/neurologistas e outros especialistas (de clínica médica, pediatria, oftalmologia, ginecologia e odontologia); a abolição do uso de coletes e camisas de força; a retirada de grades de ferro das janelas; a preocupação com a formação dos enfermeiros; o grande cuidado com os registros administrativos, estatísticos e clínicos, entre outros. Sua atuação institucional incluiu a organização da “Assistência aos Alienados”, mais tarde Serviço Nacional de Assistência aos Psicopatas, tendo redigido, em 1903, uma proposta de reforma do Hospício Nacional e insistido junto ao governo para a aprovação da legislação federal de assistência aos alienados, promulgada em 22/12/1903.7,8
Sua extensa obra escrita abrangeu várias áreas de interesse; inicialmente, publicou estudos nas áreas de sifiligrafia, dermatologia, infectologia e anatomia patológica. A seguir, concentrou-se cada vez mais nas doenças nervosas e mentais, em descrições clínicas e terapêuticas, escreveu sobre modelos assistenciais e sobre a legislação referente aos alienados, discutiu a nosografia psiquiátrica e estudou as histórias da medicina e da assistência psiquiátrica no Brasil. Tinha especial interesse pela então chamada “psiquiatria comparada”, ou seja, as manifestações das doenças mentais em culturas diversas, como atesta a sua correspondência com Emil Kraepelin.9
Seu espírito aberto e inquieto não ignorou a psicanálise; tendo domínio do alemão, conhecia as obras de Freud e tinha uma avaliação crítica delas. Numa resenha em que elogiou o livro de Franco da Rocha, “O pansexualismo na doutrina de Freud” (1920), referiu que a Sociedade Brasileira de Neurologia vinha promovendo palestras de divulgação da psicanálise e comentou, com sua ironia peculiar, que esta era pouco conhecida no país porque “No Brasil, em geral os colegas, em obediência à lei do menor esforço, aguardam que as idéias e as doutrinas passem primeiro pelo filtro francês para que nos dignemos a olhá-las contra a luz (…)”.10
Ao longo de toda sua vida, participou de muitos congressos médicos e representou o Brasil no exterior, na Europa e no Japão. Foi membro de diversas sociedades médicas e antropológicas internacionais; fundou, em colaboração com outros médicos, os periódicos Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1905), Arquivos Brasileiros de Medicina (1911) e Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro (1930) e a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1907).
Finalizando, para melhor entender a atuação de Juliano Moreira deve-se recordar que, nas primeiras décadas do século XX, a medicina brasileira acreditava ser capaz de dirigir o processo de modernização e sanitarização do país. Assim também cria Juliano Moreira e sua atuação foi coerente com esta visão; para ele, o principal papel da psiquiatria estava na profilaxia, na promoção da higiene mental e da eugenia. Em que pese o caráter francamente intervencionista deste projeto médico, não se pode negar o brilhantismo, a coragem e a originalidade deste fundador da psiquiatria brasileira.
Ana Maria Galdini Raimundo Oda e Paulo Dalgalarrondo
Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp