quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

MINHA CAMINHADA DE FÉ NA DIÁSPORA AFRICANA

Olá, pessoas queridas!

Estive um pouco ausente devido alguns compromissos pessoais, mas com saudade de escrever sobre algumas reflexões que vocês sabem, gosto de fazer e compartilhar.
Eu passei a ter um interesse pela temática Diáspora Africana e procuro estar sempre pesquisando sobre a situação do negro onde quer que ele esteja fora de África. Percebo que as dificuldades são as mesmas: a invisibilidade do negro na América Latina; como os jovens negros nos EUA morrem de forma violenta, assim como o boicote ao Oscar/2016 por atrizes e atores negros, pela total ausência dos mesmos nas indicações para o prêmio.
Aqui no Brasil  vivemos numa luta constante. Nós mulheres negras estamos na base da pirâmide social, ganhamos 40% do salário do homem branco. Importante lembrar que as negras evangélicas também estão incluídas nessa estatística. O nosso credo religioso não nos torna melhores que as espíritas, candomblecistas, umbandistas e católicas que se auto-declaram negras e pardas, pois o racismo é estrutural, ou seja, "não nos libera". 
O extermínio da juventude negra é o que mais me corta o coração. O histórico de pobreza que muitas vezes leva o jovem negro à vulnerabilidade social e  risco; o histórico de repetência escolar, que leva à distorção idade/série e, consequentemente, ao abandono definitivo da sala de aula; que leva ao mercado de trabalho informal(mão de obra barata); que leva ao crime; que leva à morte. Mas sabemos também que basta ser negro e morar na periferia ou não, para ter sua sentença de morte já assinada. Também percebo que eles geralmente são criados por mulheres negras que sustentam seus lares sozinhas: mães, avós, tias. Quando elas perdem seus meninos, eu me pergunto: quem dá o suporte psicossocial à essas mulheres? Por uma questão genética, já são hipertensas; as vezes também vem a depressão. A mídia sensacionalista não respeita a dor da família ainda mais fragilizada, e as expõem sem dor nem piedade.Quem cuida dessa família?
Muitas dessas mulheres encontram em Cristo e na sua Palavra o alívio para  dor de ter perdido seu menino, e não é a toa que elas estão todos os dias participando de cultos e campanhas na igreja, pois, certamente, ali passa a ser um espaço terapêutico onde elas podem orar em voz alta, chorar, louvar e voltar mais aliviada para sua casa.
Mas  muito me preocupa também é o silêncio das igrejas sobre o extermínio desses jovens. E me pergunto: Senhor, até quando passaremos de largo ou por cima desses cadáveres? Quando usaremos de misericórdia e justiça? O que entendemos ser o nosso próximo? 
Durante minha caminhada de fé, levei um tempo me questionando por que não fui para o campo missionário como outras mulheres foram, já que fiz o curso de teologia com esse objetivo. Hoje entendo que Deus preparou um campo missionário diferente para mim. O Senhor me chamou, me capacitou e me deu o sentimento de pertença quando me fez entender o que é ser mulher e negra na Diáspora Africana; Ele tem me mostrado uma África particular aqui no Brasil ao me dar a tarefa e o privilégio de trabalhar com mulheres e jovens negros. Esses últimos, minha grande paixão. Trabalhando com eles e para eles, percebo o quanto o racismo é perverso. 
Sinceramente, hoje eu não consigo fazer uma leitura bíblica dissociada da minha realidade. 
(Lucas 10.25-37)

Gicélia Cruz