Estive um pouco ausente devido alguns compromissos pessoais, mas com saudade de escrever sobre algumas reflexões que vocês sabem, gosto de fazer e compartilhar.
Eu passei a ter um interesse pela temática Diáspora Africana e procuro estar sempre pesquisando sobre a situação do negro onde quer que ele esteja fora de África. Percebo que as dificuldades são as mesmas: a invisibilidade do negro na América Latina; como os jovens negros nos EUA morrem de forma violenta, assim como o boicote ao Oscar/2016 por atrizes e atores negros, pela total ausência dos mesmos nas indicações para o prêmio.
Aqui no Brasil vivemos numa luta constante. Nós mulheres negras estamos na base da pirâmide social, ganhamos 40% do salário do homem branco. Importante lembrar que as negras evangélicas também estão incluídas nessa estatística. O nosso credo religioso não nos torna melhores que as espíritas, candomblecistas, umbandistas e católicas que se auto-declaram negras e pardas, pois o racismo é estrutural, ou seja, "não nos libera".
O extermínio da juventude negra é o que mais me corta o coração. O histórico de pobreza que muitas vezes leva o jovem negro à vulnerabilidade social e risco; o histórico de repetência escolar, que leva à distorção idade/série e, consequentemente, ao abandono definitivo da sala de aula; que leva ao mercado de trabalho informal(mão de obra barata); que leva ao crime; que leva à morte. Mas sabemos também que basta ser negro e morar na periferia ou não, para ter sua sentença de morte já assinada. Também percebo que eles geralmente são criados por mulheres negras que sustentam seus lares sozinhas: mães, avós, tias. Quando elas perdem seus meninos, eu me pergunto: quem dá o suporte psicossocial à essas mulheres? Por uma questão genética, já são hipertensas; as vezes também vem a depressão. A mídia sensacionalista não respeita a dor da família ainda mais fragilizada, e as expõem sem dor nem piedade.Quem cuida dessa família?
Muitas dessas mulheres encontram em Cristo e na sua Palavra o alívio para dor de ter perdido seu menino, e não é a toa que elas estão todos os dias participando de cultos e campanhas na igreja, pois, certamente, ali passa a ser um espaço terapêutico onde elas podem orar em voz alta, chorar, louvar e voltar mais aliviada para sua casa.
Mas muito me preocupa também é o silêncio das igrejas sobre o extermínio desses jovens. E me pergunto: Senhor, até quando passaremos de largo ou por cima desses cadáveres? Quando usaremos de misericórdia e justiça? O que entendemos ser o nosso próximo?
Durante minha caminhada de fé, levei um tempo me questionando por que não fui para o campo missionário como outras mulheres foram, já que fiz o curso de teologia com esse objetivo. Hoje entendo que Deus preparou um campo missionário diferente para mim. O Senhor me chamou, me capacitou e me deu o sentimento de pertença quando me fez entender o que é ser mulher e negra na Diáspora Africana; Ele tem me mostrado uma África particular aqui no Brasil ao me dar a tarefa e o privilégio de trabalhar com mulheres e jovens negros. Esses últimos, minha grande paixão. Trabalhando com eles e para eles, percebo o quanto o racismo é perverso.
Sinceramente, hoje eu não consigo fazer uma leitura bíblica dissociada da minha realidade.
(Lucas 10.25-37)
Gicélia Cruz
Nenhum comentário:
Postar um comentário