domingo, 26 de fevereiro de 2012

O silêncio negro

"O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS, E SIM O SILÊNCIO DOS BONS"(Martin Luther King Jr).

É do conhecimento da sociedade soteropolitana, que 16 mil estudantes(entre crianças e adolescentes) da rede municipal de ensino, ficarão sem aula por alguns meses. Os motivos também já foram dados.
Sabendo do perfil desses estudantes: negros, baixa renda, filhos de familia monoparental, etc. Eles têm a cor doa nossos filhos, netos, sobrinhos, vizinhos. Eles têm a cor dos nosso ancestrais. Por isso fiquei intrigada com o silêncio do Movimento Negro; assim como o silêncio do Movimento de Mulheres, do Sindicato do Professores, dos vários segmentos religiosos, e da sociedade civil em geral.
O que será dessas crianças e adolescentes? O que farão nesse período de ociosidade? Com quem ficarão, se as responsáveis pelo sustento da familia, precisam sair para trabalhar? Quantas serão coptadas para o tráfico de drogas? Dos 16 mil estudantes, quantos retornarão à escola quando as aulas recomeçarem?

 Para Geraldo Magela(Diálogos na Educação de Jovens e Adultos, 2011, p.74), "Estudar é um dos poucos caminhos ainda vislumbrados pelos jovens pobres, como possibilidade, ainda que remota, de realizar seus projetos de vida."


Como batista, e sabendo da existência de  templos com diversas salas para o ensino de educação religiosa,  que ficam ociosas a semana toda, e só são utilizados aos domingos pela manhã, então fiquei pensando: será que hoje, 1º domingo de culto depois do feriadão do carnaval, houve algum sermão voltado para essa  situação social gritante? Ou será que por serem crianças negras brasileiras, Deus não se importa com elas? E se fossem crianças "africanas natas"? Sim, porque o imaginário da África em nosso meio, ainda é do tempo do neo-colonialismo.
Gostaria de lembrar às lideranças evangélicas, que a nossa África está aqui no Bairro da Paz, Beirú, Pau da Lima, São Marcos, Suburbana, Nordete de Amaralina, Engenho Velho de Brotas e da Federação, Itapuã, Sussuarana, Cosme de Farias, Campo Grande, Centro Histórico, e tantos outros bairros nos quais as Igrejas estão inseridas; e que se vocês observarem com cuidado, a membresia da sua igreja tem uma cor: ela é negra, e muitos desses estudantes são suas ovelhas.
Muitas irmãs em Cristo, negras, não saberão com quem deixar seus filhos nessa segunda-feira, 27/02/2012, para trabalhar.

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."(João 8:32)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

As cordeiras de Salvador

Nesse carnaval não viajei, preferi ficar em casa pois precisava continuar a escrita da minha "abençoada" monografia da especialização(tô sem inspiração nenhuma...Rsrsr).

Como não aguentava mais ficar em casa, fui passar o dia de domingo na casa de uma amiga e irmã da igreja, que mora no circuito Barra-Ondina. Também queria proveitar para conhecer o local de trabalho de uma outra irmã em Cristo que me convidou para ver onde ela e mais algumas pessoas atendiam turistas oferecendo o serviço de estética: trançando cabelos, colocando mega-hair e maquiagem.

Foi nesse momento de visita que, antes de chegar ao local(Porto da Barra), vi alguns trios elétricos esperando seu momento de desfilar, e em seu entorno, um número expressivo de mulheres que certamente iriam trabalhar como cordeiras. Comecei a ficar intrigada e comentava o tempo todo com minha amiga que tinha mais mulher que homens para trabalhar segurando corda.

Então não me contive e coloquei em ação minha veia de pesquisadora. Sem nada na mão para fazer anotações, fui em busca de algumas informações orais. Me dirigi em direção a duas mulheres negras que disseram ser coordenadoras do cordeiros; me apresentei como professora de história, pesquisadora e integrante do Fórum Nacional de Mulheres Negras.

Fiz as seguintes perguntas:

  1. Quais critérios eram utilizados para seleção de cordeiros: idade, escolaridade, etc? Resp: idade mínima deve ser 18 anos, e não pode exceder os 50 anos.
  2. A escolaridade é importante? Resp: Não.
  3. Se realmente tinha mais mulher que homens segurando corda? Resp. Sim.

Claro que percebi que haviam várias mulheres com idade avançada, assim como adolescentes(inclusive vimos uma grávida). Então me dirigi a duas cordeiras que aparentavam não ser tão jovens , me apresentei e perguntei se elas tinham mais de 50 anos, as mesmas responderam que sim.

Por que esse meu interesse e inquietação frente a uma situação que já existe há anos? Eu respondo: cada dia que passa me sinto mais mulher e negra. Naquele momento eu também me senti uma cordeira

As mulheres que vi no trajeto Farol/Porto da Barra, eram  negras. Eram adolescentes, jovens, mulheres maduras, avós. Todas negras.
Enquanto professora, percebi que a maioria tinha baixa escolaridade; que certamente no seu dia a dia eram trabalhadora autônomas: diaristas, vendedoras ambulantes, lavadeiras; algumas desempregadas, mantenedoras do lar. Eram todas negras. 
Algumas mulheres já demonstravam traços de cansaço e sofrimento que a vida lhe proporcionou durante os anos. Eram todas negras.
Voltei para casa um pouco deprimida, sem saber o que fazer a não ser o desejo de escrever alguma coisa sobre o que vi.
Mas, como creio que não estou sozinha nessa reflexão, eis que no último dia de carnaval,  Deus me mostra que pertinho de mim, eu podia ter uma entrevista exclusiva de uma cordeira.
A cordeira(não vou citar nome por razões legais) que conheço desde a adolescência, hoje está com 27 anos, é separada, tem o ensino fundamental completo, trê filhos e um pequeno negócio perto de Salvador.
Perguntei por que ela estava aqui na cidade, e a mesma me respondeu que veio trabalhar como cordeira em dois blocos. Disse que nesse período de carnaval o "comércio fica fraco" na sua cidade, e que então ela veio trabalhar para ganhar dinheiro e comprar mais mercadoria para seu comércio.
Ela me disse que trabalhou em dois blocos durante esses seis(06) dias, cuja a diária de cada um é de R$ 40,00(já incluso o transporte). Então fiz as contas: ela vai ganhar quase uns R$ 500,00.
Só pra  lembrar, a Cordeira só trouxe um filho com ela. Os outros dois, menores, deixou na casa de parentes na cidade onde mora. E como na foto da reportagem abaixo, também não demonstrou tristeza em exercer essa profissão temporária.
Mas nós mulheres negras ou não, homens negros ou não, que temos acesso a um pouco mais de informação, principalmente sobre a história do negro diaspórico no Brasil, precisamos fazer essa reflexão.

Gicélia Cruz
21/02/2012
"Econhecereis a Verdade, e a verdade vos libertará"(Jo.8:32)

 

É trabalho e diversão', diz cordeira de 21 anos sobre trabalho no carnaval

Do G1 BA
16/02/2012 21h54 - Atualizado em 17/02/2012 01h44
 http://g1.globo.com/bahia/carnaval/2012/noticia/2012/02/e-trabalho-e-diversao-diz-cordeira-de-21-anos-sobre-trabalho-no-carnaval.html
Cordeira no carnaval (Foto: Eduardo Freire)Patrícia Costa, de 21 anos, trabalha como cordeira pelo terceiro ano consecutivo no carnaval de Salvador, que nesta quinta-feira (16) celebra a primeira noite. "Para mim, é trabalho e diversão", avalia. Ela se animou quando o trio do Parangolé testou o som e começou a dançar  (Foto: Eduardo Freire)
Os cordeiros são as pessoas que dividem os blocos entre os foliões de abadá e os que não possuem abadá, conhecidos como 'pipoca'. O bloco Yes desfila no Circuito Dodô, entre a Barra e Ondina, ao som da banda Jammil (Foto: Eduardo Freire/G1)

PROPAGANDAS RACISTAS

Vejamos cincos exemplos de propagandas explicitamente racistas:


5 - Anúncio da Dove com conotações racistas.

Uma propaganda da Dove nos EUA, em 2011, foi acusada de racismo por sugerir que seus produtos embelezam embranquecendo.
A peça em questão divulga o "Dove VisibleCare" e traz uma imagem com três garotas: uma negra, uma com feições latinas e uma branca – nesta ordem.
Atrás delas há duas placas; a da esquerda, identificada com um "antes", mais avariada que a da direita ("depois"). Só que abaixo do "antes" está a mulher negra, o que criou a impressão de "evolução" de uma cor à outra. Na assinatura, o anúncio informa que ao usar o produto a cliente terá uma "pele visivelmente mais bonita".
A Dove se defendeu alegando que tudo não passa de uma coincidência.


4 - A Nivea e sua propaganda racista "recivilize-se"

A Nivea foi envolvida num escândalo, em 2011, por conta de uma das suas campanhas publicitárias. Na imagem, um homem negro, barbeado e com o cabelo bem cortado, se prepara para arremessar longe uma versão mais "roots" de si mesmo: cabelo afro e barba por fazer. Aconselhando o uso de um produto da marca, a agênia DraftFCB adotou o seguinte texto: "re-civilize yourself", algo como "recivilize-se".
Para não alongar a discussão, a própria Nivea se manifestou. Pelo Facebook, a marca agradeceu pelo feedback e assumiu que a peça é "inapropriada e ofensiva". "Nunca foi nossa intenção ofender ninguém, e por isso estamos profundamente arrependidos". Segundo a empresa, o anúncio não será mais usado.


3 - É pelo corpo que se reconhece a verdadeira Negra

Em 2010, uma “peça Publicitária” da Cervejaria Devassa exibe o desenho de uma mulher negra em trajes insinuantes, aparentando ser uma roupa de cabaré e, acima da imagem em letras maiúsculas o seguinte texto: “É pelo corpo que se reconhece a verdadeira Negra”.
Uma imagem que mostra o preconceito e o desrespeito com a mulher negra.


2 - Microsoft manipula foto tirando o negro

Numa imagem publicada num site da Microsoft, uma pessoa negra foi substituída por uma branca. Um rapaz viu no site da Microsoft da Polónia uma fotografia com 3 pessoas, numa espécie de reunião: um homem asiático, uma mulher branca e um homem branco. O rapaz reparou um pequeno pormenor: a mão do homem branco era preta.
Resultado, alguém havia modificado a imagem. Então foi ver no site original e lá estava a mesma foto, só que meio diferente: um asiático, uma mulher branca e um homem negro. Alguém tinha alterado a imagem para remover o preto da foto, só que se esqueceram da mão.
A Microsoft já pediu desculpa via Twitter.


1 - A Benetton e a imagem racista o Anjo e Diabo

Em 1991/92, no contexto do fim do apartheid sul-africano, a Benetton lançou a imagem Anjo e Diabo , contendo duas meninas, uma negra e outra branca, se abraçando.
Na peça publicitária a imagem de um anjo (garota branca e loura) e do diabo (garota negra). Fica evidente devido aos formatos dos penteados das meninas: a garota branca tem cachos que lembram uma figura angelical e a menina negra tem duas ondulações que lembram chifres da figura diabólica. Tal imagem retrata a positivização da cor de pele branca e a negativização do negro segundo o ponto de vista da própria sociedade que hipocritamente jamais havia tocado de maneira extravagante neste ponto.


Bom, depois desses 5 casos, com propagandas explicitamente racistas, fica uma dica: “Não consuma de empresa racista”. “Não compre onde você não ver o seu rosto”.
Você conhece outras propagandas com racismo explicito? Manifeste sua opinião e contribua denunciando qualquer propaganda racista.
Hernani Francisco da Silva - Afrokut


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