domingo, 25 de março de 2012

Atrizes negras adolescentes

Eu assisto televisão.
Assisto  noticiários, documentários, novelas, programas esportivos, etc. Óbvio que não disponho de  tanto tempo para ficar diante da televisão; mas quando posso, o faço. Seleciono a programação que mais me interessa naquele momento e paro para assistir, com objetivo de me informar e, também, fazer minhas reflexões no que diz respeito a participação do negro naquela programação. E foi assim que percebi que nas telenovelas ou comerciais, não existem adolescentes negras.

COMO ASSIM NÃO EXISTEM ATRIZES NEGRAS ADOLESCENTES?!

Pois é, não existem. Podemos ver até atores negros adolescentes, mas atrizes não.
Por que será? Por que vemos meninas e mulheres negras(jovens e adultas) atuando, mas adolescentes negras não?
A telenovela juvenil Malhação, da Rede Globo,  está em exibição há mais de 10 anos, sempre renovando seu elenco. É um laboratório onde se perpetua o estereótipo da beleza européia.
Lá, as atrizes  brancas adolescentes são "treinadas" para serem a "namoradinha do Brasil"(usei um termo bem antigo. Rsrsrsr); e em pouco tempo serão as protagonistas da novelas das 21h. Assim também acontece com os atores jovens brancos.
A telenovela Rebeldes, da Rede Record, procede da mesma forma: as protagonistas são loiríssimas ou brancas de cabelos escuros.
Isso me preocupa, pois nossas adolescentes negras assistem essas novelas e não se vêem. Essa é uma fase de transição. Que referencial de beleza elas têm?

Quando afirmo que paro e assisto essas programações, é porque gosto de analisar essas questões na sala de aula, e pensar juntos com os educand@s, o racismo explicito contido nessas novelas. Muitos deles ainda não conseguem fazer essa reflexão, e nós como mediadores, precisamos fazê-lo.

Gicélia Cruz

Judaismo na Bahia Setecentista

Descoberta em casarão em Salvador pode mudar história do judaísmo no Brasil


 http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/descoberta-em-casarao-em-salvador-pode-mudar-historia-do-judaismo-no-brasil/
25.03.2012 | Atualizado em 25.03.2012 - 09:19
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Um grupo de cinco pesquisadores encontrou no Hotel Vila Bahia, no Cruzeiro de São Francisco, Pelourinho, o que pode ser a prova mais antiga da prática do judaísmo em toda a América Portuguesa


O que para um leigo não passa de uma banheira antiga, para um judeu ortodoxo é tão importante quanto uma sinagoga - o templo sagrado dos israelitas. Por si só, a mikvé (isso mesmo, mikvé) que ilustra essa página, já seria uma relíquia.

Mas e se o local onde são realizados banhos sagrados para purificação judaica for do século XVII, período auge da Inquisição católica na Bahia? E se ele foi construído em um casarão antigo, no Centro Histórico de Salvador, a uns 15 passos da Igreja de São Francisco, bem na cara do Santo Ofício? E se ele é um segredo sagrado, guardado por quase quatro séculos. Aí, além do status de relíquia, o material é capaz de mudar a História.


Descoberta em casarão em Salvador pode mudar história do judaísmo no Brasil


Um grupo de cinco pesquisadores encontrou no Hotel Vila Bahia, no Cruzeiro de São Francisco, Pelourinho, o que pode ser a prova mais antiga da prática do judaísmo em toda a América Portuguesa. E o mais curioso: ela teria pertencido a um cristão-novo, como eram conhecidos os judeus que, por decreto do rei de Portugal D. Manuel I, em 1497 foram convertidos à força em católicos.

O fato de ser uma mikvé já tornaria o material algo único na Bahia. Mas, se a época da sua construção coincidir com o período no qual os judeus eram perseguidos, isso a transformaria em um achado arqueológico único no país. Apenas no Recife há uma sinagoga tão antiga, construída na primeira metade do século XVII. Só que ela é do período de dominação holandesa naquela região. Diferente dos portugueses, os holandeses toleravam judeus.

Ainda não há 100% de certeza de que a peça é uma mikvé. Mas três anos de pesquisas mostram que isso é quase certo. “Tudo leva a crer que é uma mikvé tradicional. As dimensões de comprimento e largura, a capacidade volumétrica, o reservatório de água da chuva e até a ausência de um ralo nos fazem crer que é uma mikvé”, diz a historiadora Silvana Severs, do grupo responsável pela descoberta.   

Descoberta
O equipamento do Pelourinho foi encontrado em 2006. Seu valor histórico e arquitetônico, porém, se revelou por acaso. Uma reforma realizada no casarão fez com que o francês Bruno Guinard, diretor do hotel, promovesse a restauração do que acreditava ser um “banho português”. “Estava debaixo de escombros”, descreve Bruno. “Chamei alguns especialistas que disseram se tratar de um simples ‘banho português’. Mas senti que era algo mais e resolvi restaurar”.  

Dois anos depois, um judeu ortodoxo que visitava o hotel falou pela primeira vez que aquilo poderia ser uma mikvé. Depois, uma cliente do restaurante, também judia, desconfiou da construção. Essa mesma cliente, a nutricionista Berta Wainstein, em 2009, propôs que um grupo de pesquisa fosse montado. “Sou uma curiosa, uma apaixonada. Quero deixar esse patrimônio para a Bahia”, diz Berta.

Professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e historiadora do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Iphan), Suzana Severs diz que falta apenas o estudo arqueológico para datar a construção, o que confirmaria se é realmente do século XVII. Aliás, a própria idade do casarão, que fica na esquina da rua da Ordem Terceira do São Francisco, conta a favor. “O imóvel é daquele período. Além do mais, confirmamos que os azulejos que recobrem a mikvé são também do século XVII”.

Ousadia
Junto com a datação da peça, será preciso mais pesquisa. Há a suspeita, por exemplo, de que o primeiro proprietário do casarão chamava-se Francisco de Oliveira Porto. O nome é português, mas essa pode ter sido apenas mais uma forma de ele se proteger dos inquisidores. “Precisamos saber se ele era realmente um cristão-novo e realizava rituais judaicos”, diz Suzana.

É preciso conhecer a força da inquisição para entender a ousadia de quem praticava o judaísmo na Bahia seiscentista. “A simples suspeita de que um indivíduo mantinha hábitos judaicos já seria motivo para ser levado à fogueira. Imagine ter uma mikvé!”, analisa Anita Novinsky, da Universidade de São Paulo (USP) e uma das maiores autoridades do país em cristãos-novos.
Ela explica que ainda assim houve quem mantivesse a tradição - foram chamados de criptojudeus. “Se havia prática judaica em Salvador? Ô, se havia. A Bahia foi o centro do judaísmo no Brasil do século XVII. Provavelmente, o homem que construiu o casarão era um criptojudeu”.
Rabino: 'Estou 100% convencido'
Ainda que a cautela seja um dos princípios do grupo de pesquisa, o rabino Ariel Oliszemski, que é argentino e mora no Rio Grande do Sul, acredita piamente que a construção instalada no Hotel Vila Bahia se trata de um exemplar antigo do banho sagrado dos judeus.
“Estou 100% convencido. Todas as características são de uma mikvé”. Chamado a participar dos estudos, ele explica que o banho sagrado tem diversos usos. Mas, basicamente, representa o momento de se purificar para uma etapa nova da vida.“A mulher quando vai se casar ou está ‘impura’ pela menstruação. As pessoas que se convertem ao judaísmo. Esses devem se banhar”.
Independente da função, o que não se pode negar é a importância de uma mikvé. “Não existe vida judaica sem sinagoga e sem mikvé”, diz o rabino Oliszemski.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Seminário Ideologia de Branquitude, Mestiçagem e Negritude

Fui convidada à participar da palestra em momento de reflexão sobre o dia 21 de Março: Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial.










SCULT-(CR-Subúrbio).

quinta-feira, 22 de março de 2012

Retorno às atividades

Estava um pouco ausente, pois precisava terminar minha monografia. Faço uma especialização em Educação de Jovens e Adultos-EJA, na Faculdade de Educação(UFBA). O trabalho ainda não está 100%, mas já encaminhei 43 laudas para que minha orientadora corrija.

Essa especialização foi maravilhosa. Emprincío não sabia para que lado ia. Levei quase três meses para entender a proposta. O detalhe mais importante é que a especialização era dentro da perpectiva marxista, e eu nunca gostei de Marx. E agora falo de capitalismo, burguesia, precarização do trabalho, economia solidária, etc.

O problema é que eu, enquanto mulher negra, nunca me senti contemplada com o discurso de Marx. Entendo que no Brsil, pensar a desigualdade social só pelo ponto de vista de diferença de classes, não é o bastante. Um pais que pratica 400 anos de escravidão negra,  a questão é racial.

Tenho como meta ler O capital de Kall Marx, e outras obras relevantes sobre a temática. Afinal de contas, preciso me armar com as mesmas armas que eles.

terça-feira, 13 de março de 2012

Evento: Terceira Diáspora

Mostra Visual

Terceira Diáspora, culturas negras no mundo atlântico.
Apresentação visual da produção cultural da diáspora negra em vários campos de criação - moda, artes visuais, música, literatura.

O evento da antropóloga Goli Guerreiro conta com apoio do MinC.

Galeria Moacir Moreno, Teatro XVIII – Pelourinho.
Dia 15 de março (quinta-feira), das 19 às 20 h. Grátis.



domingo, 26 de fevereiro de 2012

O silêncio negro

"O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS, E SIM O SILÊNCIO DOS BONS"(Martin Luther King Jr).

É do conhecimento da sociedade soteropolitana, que 16 mil estudantes(entre crianças e adolescentes) da rede municipal de ensino, ficarão sem aula por alguns meses. Os motivos também já foram dados.
Sabendo do perfil desses estudantes: negros, baixa renda, filhos de familia monoparental, etc. Eles têm a cor doa nossos filhos, netos, sobrinhos, vizinhos. Eles têm a cor dos nosso ancestrais. Por isso fiquei intrigada com o silêncio do Movimento Negro; assim como o silêncio do Movimento de Mulheres, do Sindicato do Professores, dos vários segmentos religiosos, e da sociedade civil em geral.
O que será dessas crianças e adolescentes? O que farão nesse período de ociosidade? Com quem ficarão, se as responsáveis pelo sustento da familia, precisam sair para trabalhar? Quantas serão coptadas para o tráfico de drogas? Dos 16 mil estudantes, quantos retornarão à escola quando as aulas recomeçarem?

 Para Geraldo Magela(Diálogos na Educação de Jovens e Adultos, 2011, p.74), "Estudar é um dos poucos caminhos ainda vislumbrados pelos jovens pobres, como possibilidade, ainda que remota, de realizar seus projetos de vida."


Como batista, e sabendo da existência de  templos com diversas salas para o ensino de educação religiosa,  que ficam ociosas a semana toda, e só são utilizados aos domingos pela manhã, então fiquei pensando: será que hoje, 1º domingo de culto depois do feriadão do carnaval, houve algum sermão voltado para essa  situação social gritante? Ou será que por serem crianças negras brasileiras, Deus não se importa com elas? E se fossem crianças "africanas natas"? Sim, porque o imaginário da África em nosso meio, ainda é do tempo do neo-colonialismo.
Gostaria de lembrar às lideranças evangélicas, que a nossa África está aqui no Bairro da Paz, Beirú, Pau da Lima, São Marcos, Suburbana, Nordete de Amaralina, Engenho Velho de Brotas e da Federação, Itapuã, Sussuarana, Cosme de Farias, Campo Grande, Centro Histórico, e tantos outros bairros nos quais as Igrejas estão inseridas; e que se vocês observarem com cuidado, a membresia da sua igreja tem uma cor: ela é negra, e muitos desses estudantes são suas ovelhas.
Muitas irmãs em Cristo, negras, não saberão com quem deixar seus filhos nessa segunda-feira, 27/02/2012, para trabalhar.

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."(João 8:32)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

As cordeiras de Salvador

Nesse carnaval não viajei, preferi ficar em casa pois precisava continuar a escrita da minha "abençoada" monografia da especialização(tô sem inspiração nenhuma...Rsrsr).

Como não aguentava mais ficar em casa, fui passar o dia de domingo na casa de uma amiga e irmã da igreja, que mora no circuito Barra-Ondina. Também queria proveitar para conhecer o local de trabalho de uma outra irmã em Cristo que me convidou para ver onde ela e mais algumas pessoas atendiam turistas oferecendo o serviço de estética: trançando cabelos, colocando mega-hair e maquiagem.

Foi nesse momento de visita que, antes de chegar ao local(Porto da Barra), vi alguns trios elétricos esperando seu momento de desfilar, e em seu entorno, um número expressivo de mulheres que certamente iriam trabalhar como cordeiras. Comecei a ficar intrigada e comentava o tempo todo com minha amiga que tinha mais mulher que homens para trabalhar segurando corda.

Então não me contive e coloquei em ação minha veia de pesquisadora. Sem nada na mão para fazer anotações, fui em busca de algumas informações orais. Me dirigi em direção a duas mulheres negras que disseram ser coordenadoras do cordeiros; me apresentei como professora de história, pesquisadora e integrante do Fórum Nacional de Mulheres Negras.

Fiz as seguintes perguntas:

  1. Quais critérios eram utilizados para seleção de cordeiros: idade, escolaridade, etc? Resp: idade mínima deve ser 18 anos, e não pode exceder os 50 anos.
  2. A escolaridade é importante? Resp: Não.
  3. Se realmente tinha mais mulher que homens segurando corda? Resp. Sim.

Claro que percebi que haviam várias mulheres com idade avançada, assim como adolescentes(inclusive vimos uma grávida). Então me dirigi a duas cordeiras que aparentavam não ser tão jovens , me apresentei e perguntei se elas tinham mais de 50 anos, as mesmas responderam que sim.

Por que esse meu interesse e inquietação frente a uma situação que já existe há anos? Eu respondo: cada dia que passa me sinto mais mulher e negra. Naquele momento eu também me senti uma cordeira

As mulheres que vi no trajeto Farol/Porto da Barra, eram  negras. Eram adolescentes, jovens, mulheres maduras, avós. Todas negras.
Enquanto professora, percebi que a maioria tinha baixa escolaridade; que certamente no seu dia a dia eram trabalhadora autônomas: diaristas, vendedoras ambulantes, lavadeiras; algumas desempregadas, mantenedoras do lar. Eram todas negras. 
Algumas mulheres já demonstravam traços de cansaço e sofrimento que a vida lhe proporcionou durante os anos. Eram todas negras.
Voltei para casa um pouco deprimida, sem saber o que fazer a não ser o desejo de escrever alguma coisa sobre o que vi.
Mas, como creio que não estou sozinha nessa reflexão, eis que no último dia de carnaval,  Deus me mostra que pertinho de mim, eu podia ter uma entrevista exclusiva de uma cordeira.
A cordeira(não vou citar nome por razões legais) que conheço desde a adolescência, hoje está com 27 anos, é separada, tem o ensino fundamental completo, trê filhos e um pequeno negócio perto de Salvador.
Perguntei por que ela estava aqui na cidade, e a mesma me respondeu que veio trabalhar como cordeira em dois blocos. Disse que nesse período de carnaval o "comércio fica fraco" na sua cidade, e que então ela veio trabalhar para ganhar dinheiro e comprar mais mercadoria para seu comércio.
Ela me disse que trabalhou em dois blocos durante esses seis(06) dias, cuja a diária de cada um é de R$ 40,00(já incluso o transporte). Então fiz as contas: ela vai ganhar quase uns R$ 500,00.
Só pra  lembrar, a Cordeira só trouxe um filho com ela. Os outros dois, menores, deixou na casa de parentes na cidade onde mora. E como na foto da reportagem abaixo, também não demonstrou tristeza em exercer essa profissão temporária.
Mas nós mulheres negras ou não, homens negros ou não, que temos acesso a um pouco mais de informação, principalmente sobre a história do negro diaspórico no Brasil, precisamos fazer essa reflexão.

Gicélia Cruz
21/02/2012
"Econhecereis a Verdade, e a verdade vos libertará"(Jo.8:32)

 

É trabalho e diversão', diz cordeira de 21 anos sobre trabalho no carnaval

Do G1 BA
16/02/2012 21h54 - Atualizado em 17/02/2012 01h44
 http://g1.globo.com/bahia/carnaval/2012/noticia/2012/02/e-trabalho-e-diversao-diz-cordeira-de-21-anos-sobre-trabalho-no-carnaval.html
Cordeira no carnaval (Foto: Eduardo Freire)Patrícia Costa, de 21 anos, trabalha como cordeira pelo terceiro ano consecutivo no carnaval de Salvador, que nesta quinta-feira (16) celebra a primeira noite. "Para mim, é trabalho e diversão", avalia. Ela se animou quando o trio do Parangolé testou o som e começou a dançar  (Foto: Eduardo Freire)
Os cordeiros são as pessoas que dividem os blocos entre os foliões de abadá e os que não possuem abadá, conhecidos como 'pipoca'. O bloco Yes desfila no Circuito Dodô, entre a Barra e Ondina, ao som da banda Jammil (Foto: Eduardo Freire/G1)