
Esse blog é para compartilhar experiências vividas por negras e negros que, na Diáspora Africana no Brasil, passaram a professar a fé protestante. Vivências na área da religiosidade, educação, política e afins, podem e devem ser compartilhadas afim de que possamos refletir sobre o crescente número de negros que se dizem evangélicos.
terça-feira, 26 de junho de 2012
Convite: Oficina Racismo e Sexismo no Brasil
Olá, pessoas queridas!!!!
Eu serei a mediadora.
Esse será um momento de reflexão sobre nossa realidade, enquanto mulheres negras, numa sociedade que nos trata de forma desigual.
Sei que para o segmento evangélico, esse tema é estranho. Talvez alguns irmãos e irmãs estejam pensando: "Ela(eu), deveria estar pregando a Palavra de Deus, e não envolvida com essas coisas."
Mas eu tenho certeza de que estou fazendo a vontade de Deus, quando na Sua Palavra está escrito:
O ESPÍRITO DO SENHOR ESTÁ SOBRE MIM, PELO QUE ME UNGIU PARA EVANGELIZAR OS POBRES. ENVIOU-ME PARA APREGOAR LIBERDADE AOS CATIVOS, DAR VISTA AOS CEGOS, PÔR EM LIBERDADE OS OPRIMIDOS, E ANUNCIAR O ANO ACEITÁVEL DO SENHOR. (Lc. 4.18).
Conto com sua presença.
Afroabraço,
Gicélia.
sábado, 23 de junho de 2012
Sem Postar
Olá, pessoas queridas!
Tô com a cabeça fervilhando de coisas para escrever, mas minha abençoada monografia da especialização, parece não ter fim. Por isso estou sem postar coisas novas.
Continuo agradecendo à todas as pessoas que têm visitado meu blog.
Parece que tem um pessoal lá na Ucrânia que tem curtido muito as coisas que eu escrevo. Beijão pra vocês!!!
Que o Senhor Deus continue nos abençoando em nome de Jesus, o Cristo.
Bjs.
Tô com a cabeça fervilhando de coisas para escrever, mas minha abençoada monografia da especialização, parece não ter fim. Por isso estou sem postar coisas novas.
Continuo agradecendo à todas as pessoas que têm visitado meu blog.
Parece que tem um pessoal lá na Ucrânia que tem curtido muito as coisas que eu escrevo. Beijão pra vocês!!!
Que o Senhor Deus continue nos abençoando em nome de Jesus, o Cristo.
Bjs.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Agradecimentos
Quero agradecer de coração à vocês que têm visitado meu blog.
Mesmo com poucos deixando comentários, sei que vocês tem lido o que eu escrevo, e certamente gostado ou não. Rsrsrs
Escrever sobre minhas impressões como mulher negra e batista, tem sido um exercicio.
Gente, tem alguém lá na Russia que me visita sempre. Além da Turquia, Afeganistão e Japão.
Não acreditei quando vi isso!
Kkkkkkkk
São vários paises, mas só citei esses quatro por achar incrivel a dimensão que minhas postagens têm tomado.
Aceito sugestões de pessoas que estão perto e de muito, muito longe! Rsrsrs
"O Senhor me deu língua instruída, para saber a palavra que ampara o cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido, para para que ouça como discípulo."(Isaias 50.4)
Obrigada, Senhor Jesus!
Mesmo com poucos deixando comentários, sei que vocês tem lido o que eu escrevo, e certamente gostado ou não. Rsrsrs
Escrever sobre minhas impressões como mulher negra e batista, tem sido um exercicio.
Gente, tem alguém lá na Russia que me visita sempre. Além da Turquia, Afeganistão e Japão.
Não acreditei quando vi isso!
Kkkkkkkk
São vários paises, mas só citei esses quatro por achar incrivel a dimensão que minhas postagens têm tomado.
Aceito sugestões de pessoas que estão perto e de muito, muito longe! Rsrsrs
"O Senhor me deu língua instruída, para saber a palavra que ampara o cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido, para para que ouça como discípulo."(Isaias 50.4)
Obrigada, Senhor Jesus!
terça-feira, 5 de junho de 2012
O Silêncio Negro 2
A greve dos professores da rede estadual da Bahia está fazendo quase dois meses, e o que me faz escrever um pouco sobre essa situação é que percebo, mais uma vez, que a população negra está sendo prejudicada.
Enquanto educadora, quero sim ver meu trabalho e saláro valorizados à altura de todo o invetimento que fiz e faço para dar uma boa aula.
Mas quero refletir mesmo é sobre a manobra racista que deixa nossos jovens negros fora da sala de aula, tirando-lhes a oportunidade de concorrer, de forma igualitária com os jovens brancos, a uma vaga nos cursos de elite das universidades públicas, principalmente na UFBA: medicina, odontologia, direito, arquitetura, etc. Nesses cursos, basta ser graduado para o jovem já ser chamado de doutor(mesmo sem defender nenhuma tese).
Vejamos: o Estado da Bahia concentra a maior população negra do Brasil, e também o maior índice de analfabetos, que não por acaso, são os negros.
Eu sou da teoria da conspiração: penso que todas as vezes que nós, negras e negros, avançamos na conquista dos nossos direitos, "eles" nos boicotam. Recentemente, o sistema de cotas para negros nas universidades públicas foi aprovado. Então o que eles fazem para nos prejudicar? Greve nas escolas estaduais e por tempo indeterminado!
Isso desmotiva nossos jovens. Eles ficam ociosos, vão pra rua e certamente ficarão vulneráveis à todo tipo de violência: sem escola, sem trabalho, sem percpectiva de vida, o envolvimento com as drogas...
E o extermínio dos jovens negros continua!!!!
E as mães negras choram a dor da perda do seu filho.
E as mães negras não verão seu filho ser chamado de doutor...
Enquanto educadora, quero sim ver meu trabalho e saláro valorizados à altura de todo o invetimento que fiz e faço para dar uma boa aula.
Mas quero refletir mesmo é sobre a manobra racista que deixa nossos jovens negros fora da sala de aula, tirando-lhes a oportunidade de concorrer, de forma igualitária com os jovens brancos, a uma vaga nos cursos de elite das universidades públicas, principalmente na UFBA: medicina, odontologia, direito, arquitetura, etc. Nesses cursos, basta ser graduado para o jovem já ser chamado de doutor(mesmo sem defender nenhuma tese).
Vejamos: o Estado da Bahia concentra a maior população negra do Brasil, e também o maior índice de analfabetos, que não por acaso, são os negros.
Eu sou da teoria da conspiração: penso que todas as vezes que nós, negras e negros, avançamos na conquista dos nossos direitos, "eles" nos boicotam. Recentemente, o sistema de cotas para negros nas universidades públicas foi aprovado. Então o que eles fazem para nos prejudicar? Greve nas escolas estaduais e por tempo indeterminado!
Isso desmotiva nossos jovens. Eles ficam ociosos, vão pra rua e certamente ficarão vulneráveis à todo tipo de violência: sem escola, sem trabalho, sem percpectiva de vida, o envolvimento com as drogas...
E o extermínio dos jovens negros continua!!!!
E as mães negras choram a dor da perda do seu filho.
E as mães negras não verão seu filho ser chamado de doutor...
terça-feira, 22 de maio de 2012
REPORTAGENS RACISTAS E XENOFÓBICAS
A REDE RECORD, MAIS UMA VEZ, PASSA A EXIBIR UMA SÉRIE DE REPORTAGENS RACISTAS E XENOFÓBICAS SOBRE O CONTINENTE AFRICANO. DESSA VEZ APRESENTARÁ MALI COMO UM PAÍS ONDE NÃO HÁ CIVILIZAÇÃO.
GERALMENTE ELES ENVIAM UM REPÓRTER BRANCO COM POSTURA DE SUPERIORIDADE INTELECTUAL E CULTURAL.
CERTAMENTE A REPORTAGEM NÃO FALARÁ SOBRE O GRANDE IMPÉRIO DO MALI E SEU LEGADO HISTÓRICO PARA A HUMANIDADE.
TAMBÉM NÃO FALARÃO QUE OS FRANCESES COLONIZARAM O PAIS POR QUASE 80 ANOS, ROUBANDO SUAS RIQUEZAS MINERAIS; DIZIMANDO SUA CULTURA, QUANDO IMPÔS O IDIOMA FRANCÊS COMO A LINGUA OFICIAL DO PAÍS.
GERALMENTE ELES ENVIAM UM REPÓRTER BRANCO COM POSTURA DE SUPERIORIDADE INTELECTUAL E CULTURAL.
CERTAMENTE A REPORTAGEM NÃO FALARÁ SOBRE O GRANDE IMPÉRIO DO MALI E SEU LEGADO HISTÓRICO PARA A HUMANIDADE.
TAMBÉM NÃO FALARÃO QUE OS FRANCESES COLONIZARAM O PAIS POR QUASE 80 ANOS, ROUBANDO SUAS RIQUEZAS MINERAIS; DIZIMANDO SUA CULTURA, QUANDO IMPÔS O IDIOMA FRANCÊS COMO A LINGUA OFICIAL DO PAÍS.
(SE FALAREM, OBVIAMENTE NÃO DARÃO A IMPORTÂNCIA DEVIDA)
NA REPORTAGEM DE HOJE, 22/05/2012, ELES FALARAM SOBRE UMA POPULAÇÃO POBRE; QUE AS CRIANÇAS TRABALHAM NO GARIMPO PARA AJUDAR NO SUSTENTO FAMILIAR, E QUE POR ISSO NÃO ESTUDAM.
PERGUNTO:
NA REPORTAGEM DE HOJE, 22/05/2012, ELES FALARAM SOBRE UMA POPULAÇÃO POBRE; QUE AS CRIANÇAS TRABALHAM NO GARIMPO PARA AJUDAR NO SUSTENTO FAMILIAR, E QUE POR ISSO NÃO ESTUDAM.
PERGUNTO:
EM QUE O BRASIL SE DIFERENCIA DESSA REALIDADE?
QUAL O NIVEL DE ESCOLARIDADE DAS NOSSAS CRIANÇAS NEGRAS EM COMPARAÇÃO ÀS CRIANÇAS BRANÇAS?
QUAL O PERFIL DOS ANALFABETOS BRASILEIROS?
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA NO BRASIL?QUEM SÃO OS "NOVOS SENHORES" E OS "NOVOS ESCRAVOS"?
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA NO BRASIL?QUEM SÃO OS "NOVOS SENHORES" E OS "NOVOS ESCRAVOS"?
ONDE ESTÃO LOCALIZADAS AS MORADIAS DOS NEGROS BRASILEIROS?
MESMO ASSIM "ELES" QUEREM REALIZAR UMA ESPÉCIE DE COLONIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA NA ÁFRICA, ATRAVÉS DE UM CRISTIANISMO DETURPADO. UM CRISTIANISMO QUE SEGREGA. UM CRISTIANISMO QUE MOSTRA QUE DEUS "FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS", E ESSAS PESSOAS SÃO NEGRAS. MAS NÃO É ISSO QUE APREDEMOS NA FIEL PALAVRA DE DEUS.
MESMO ASSIM "ELES" QUEREM REALIZAR UMA ESPÉCIE DE COLONIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA NA ÁFRICA, ATRAVÉS DE UM CRISTIANISMO DETURPADO. UM CRISTIANISMO QUE SEGREGA. UM CRISTIANISMO QUE MOSTRA QUE DEUS "FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS", E ESSAS PESSOAS SÃO NEGRAS. MAS NÃO É ISSO QUE APREDEMOS NA FIEL PALAVRA DE DEUS.
POR ISSO ENTENDO QUE NÓS, EDUCADORES NEGROS OU NÃO, QUE NOS DECLARAMOS EVANGÉLICOS, PRECISAMOS COLOCAR EM PRÁTICA A LEI 10.639/03. DEVEMOS ESTAR ATENTOS À ESSE TIPO DE REPORTAGEM QUE EM NADA CONTRIBUE PARA O NOSSO CONHECIMENTO HISTÓRICO; QUE MUITAS VEZES É UMA ARMALDILHA QUE FOMENTA, TAMBÉM, A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.
"E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará."(João 8.32)
TIMBUKTU
Timbuktu, localiza-se no centro do Mali. Apesar de não mostrar o esplendor da sua época áurea, no século XIV e estar a ser engolida pela areia do Saara, ainda tem uma importância tão grande que foi inscrita pela UNESCO, em 1988, na lista do Património Mundial. A prestigiada universidade alcorânica de Sankoré, onde 50 mil sábios muçulmanos ajudaram a espalhar o Islão através da África Ocidental, ainda funciona, embora com um número mais reduzido de apenas 15 mil estudantes. Timbuktu alberga ainda o famoso Centro Ahmed Baba, com a sua fantástica colecção de 20 mil manuscritos árabes antigos, que retratam mais de um milénio de conhecimento científico islâmico. A cidade tem três mesquitas principais, Djingareyber, construída de barro, em 1325, Sankoré e Sidi Yahia. Timbuktu foi fundada cerca do ano 1100 pela sua proximidade com o Rio Níger, para servir às caravanas que traziam sal das minas do deserto do Saara para trocar por ouro e escravos, trazidos do sul por aquele rio. Timbuktu atingiu o seu apogeu sob o Império Songhay, tornando-se um paraíso para os estudiosos e a capital espiritual dos finais da dinastia Mandingo Askia (1493-1591). Timbuktu que foi habitada por muçulmanos, cristãos e judeus durante centenas de anos, foi sempre um centro de tolerância religiosa e racial. As culturas locais, songhai, tuaregue, árabe e moura misturaram-se, mas conservaram as suas distintas tradições. Essa idade de ouro terminou no século XVI, quando um exército marroquino destruiu o Império Songhay. O domínio do comércio com África pelos navegadores europeus foi mais uma razão para o declínio de Timbuktu.
domingo, 20 de maio de 2012
A historiografia brasileira e o silêncio da escrita negra
Oi, pessoal!
Estou sem muito tempo para escrever, pois preciso terminar minha monografia. Estou concluindo uma especialização em Educação de Jovens e Adultos, na FACED/UFBA, que comecei em 2010. Escolhi o tema Juventude Negra na EJA, trazendo a experiência de uma turma de EJA no Projeto em que trabalho.
Mas como não podia ficar tanto tempo sem fazer minhas reflexões, ao ler um parágrafo de um livro muito bom, então não resisti e aqui estou eu.
As vezes eu me acho um pouco radical em relação a algumas questões, como por exemplo: a academia só me apresentar teóricos brancos. No curso de História, perguntei a um dos meus professores(ele era italiano) se não trabalharia com nenhum teórico negro brasileiro. E ele automaticamente me respondeu com outra pergunta: E no Brasil tem algum teórico negro? Me mostre um! Eu fiquei irritada, mas não sabia dizer quais intelectuais negros existiram no Brasil no século XIX.
Na especialização em EJA, fiz a mesma pergunta e me deram a mesma resposta. Mas ai eu já tinha o que dizer.
Em dezembro de 2010, comprei o livro NEGROS E PÓLITICA(1888-1937),
de Flávio Gomes. E sempre que preciso, recorro a ele para embasar minhas respostas sobre a produção intelectual do negro.
Vale a pena ter na sua estante. O livro traz informações preciosas
no que diz respeito a atuação do negro na escrita e politica no Brasil do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.
Em um dos parágrafos, GOMES, fala sobre a armadilha da historiografia brasileira em silenciar a escrita negra, já que final do século XIX, vários jornais foram criados por liderenças negras e voltados à comunidade negra.
"Este detalhe delimita de maneira nítida as diferenças quanto às formas de compreender a cidade, a sociedade brasileira e os próprios sujeitos, autores e leitores desses jornais. E também nos ajuda a escapar de armadilhas cuidadosamente preservadas por determinada parcela da historigrafia brasileira: a suposta ausência ou silêncio das fontes e a inexistência de documentos escritos sobre a população negra no Brasil pós-abolição. Ajuda, sobretudo, a entender como um segmento da população negra brasileira percebeu, concebeu, projetou, construiu e, em outros momentos, iniciou a desconstrução de sua própria imagem e presença na sociedade." (GOMES. 2005, p. 34).
E ai, o que você achou dessa citação?
Eu, particularmente, quando leio textos como esses, fico mais alerta.
Agora voltarei à minha monografia. Falta pouco pra acabar.
Rsrsrsrs
Fiquem na paz de Cristo!
Uma semana abençoada pra tod@s nós.
domingo, 6 de maio de 2012
Pioneiro da Psicanálise no Brasil era Negro e Baiano
Juliano Moreira foi um psiquiatra negro frente ao racismo
científico
6 de maio é o dia do Psicanalista e Juliano Moreira é considerado o pai da Psicanálise Brasileira.
Juliano Moreira (1873-1933), baiano de
Salvador, é freqüentemente designado como fundador da disciplina
psiquiátrica no Brasil. Sua biografia justifica tal eleição: mestiço
(mulato), de família pobre, extremamente precoce, ingressou na Faculdade
de Medicina da Bahia aos 13 anos, graduando-se aos 18 anos (1891), com a
tese “Sífilis maligna precoce“. Cinco anos depois, era
professor substituto da seção de doenças nervosas e mentais da mesma
escola. De 1895 a 1902, freqüentou cursos sobre doenças mentais e
visitou muitos asilos na Europa (Alemanha, Inglaterra, França, Itália e
Escócia).1
De 1903 a 1930, no Rio de Janeiro,
dirigiu o Hospício Nacional de Alienados. Neste, embora não fosse
professor da Faculdade de Medicina do Rio, recebia internos para o
ensino de psiquiatria. Aglutinou ao seu redor médicos que viriam a ser,
eles também, organizadores ou fundadores na medicina brasileira, de
diversas especialidades: neurologia, psiquiatria, clínica médica,
patologia clínica, anatomia patológica, pediatria e medicina legal, tais
como Afrânio Peixoto, Antonio Austragésilo, Franco da Rocha, Ulisses
Viana, Henrique Roxo, Fernandes Figueira, Miguel Pereira, Gustavo Riedel
e Heitor Carrilho, entre outros.2
Um aspecto marcante na obra de Juliano
Moreira foi sua explícita discordância quanto à atribuição da
degeneração do povo brasileiro à mestiçagem, especialmente a uma suposta
contribuição negativa dos negros na miscigenação. A posição de Moreira
era minoritária entre os médicos, na primeira década do século XX, época
em que ele mais diretamente se referiu a esta divergência, polemizando
com o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Também
desafiava outro pressuposto comum à época, de que existiriam doenças
mentais próprias dos climas tropicais.3,4
Convém ressaltar que a teoria da
degenerescência nunca seria colocada em questão por Moreira, mas apenas
os seus fatores causais. Para ele, na luta contra as degenerações
nervosas e mentais, os inimigos a combater seriam o alcoolismo, a
sífilis, as verminoses, as condições sanitárias e educacionais adversas,
enfim; o trabalho de higienização mental dos povos, disse ele, não
deveria ser afetado por “ridículos preconceitos de cores ou castas (…)”.4
Em seu discurso de posse, ao ser aprovado
no concurso para professor da Faculdade de Medicina da Bahia, em maio
de 1896, Moreira descreveu de forma tão elegante quanto contundente o
que parece ser sua experiência pessoal com relação ao marcante
preconceito de cor na sociedade brasileira de então. Endereçando-se “(…)
a quem se arreceie de que a pigmentação seja nuvem capaz de marear o
brilho desta faculdade (…)”, disse: “Subir sem outro bordão que não seja
a abnegação ao trabalho, eis o que há de mais escabroso. (…) Em dias de
mais luz e hombridade o embaçamento externo deixará de vir à linha de
conta. Ver-se-á, então que só o vício, a subserviência e a ignorância
são que tisnam a pasta humana quando a ela se misturam (…). A incúria e o
desmazelo que petrificam (…) dão àquela massa humana aquele outro
negror (…)”2 (págs.17-18).
Resumidamente, pode-se dizer que, de
meados do século XIX até cerca de 1910, o país se definia
prioritariamente pela raça, isto é, as discussões sobre o caráter
nacional e o futuro da nação passavam pela solução dos problemas
atribuídos à miscigenação do povo brasileiro. A partir da década de
1910, e especialmente após o fim da Primeira Guerra Mundial, o movimento
pelo saneamento rural do Brasil ganhou força, e se deslocou o foco para
a doença ou as doenças dos brasileiros. Um Brasil desconhecido seria
revelado a partir de expedições de órgãos do governo, como as de Cândido
Rondon, do Mato Grosso ao Amazonas, em 1907 e 1908, e as expedições
científicas de Oswaldo Cruz. A famosíssima frase do médico Miguel
Pereira, “O Brasil é um imenso hospital”, dita em 1916, marcou o início
deste movimento. A exprobração à mestiçagem e ao nosso clima tropical
cedeu lugar à condenação ao governo por abandonar as populações
interioranas; seu atraso passou a ser atribuído ao isolamento geográfico
e às infestações por doenças parasitárias, especialmente ancilostomose e
doença de Chagas. Ao mesmo tempo, intensas campanhas sanitárias eram
coordenadas por Oswaldo Cruz, contra a febre amarela e contra a varíola,
doenças que espantavam muitos visitantes e imigrantes do Brasil. A
doença tornou-se a chave para a identificação do Brasil, a higienização
sua possibilidade de redenção.5 A ciência, mais
especificamente a medicina, tendeu, então, a se auto-representar como
norteadora do processo de definição da nacionalidade e da modernização
do país.6
O contexto político e cultural de sua
época deve ser considerado quando se analisa a obra e a atuação de
Juliano Moreira. Ele alinhou-se às correntes que então representavam a
modernização teórica da psiquiatria e da prática asilar. Demonstrou isto
em sua filiação à escola psicopatológica alemã ¾ foi divulgador da obra de Kraepelin ¾ e nas mudanças que introduziu quando assumiu o Hospício Nacional de Alienados.
Como ele mesmo descreveu, foram estas as
mudanças: instalação de laboratórios de anatomia patológica e de
bioquímica no hospital; remodelação do corpo clínico, com entrada de
psiquiatras/neurologistas e outros especialistas (de clínica médica,
pediatria, oftalmologia, ginecologia e odontologia); a abolição do uso
de coletes e camisas de força; a retirada de grades de ferro das
janelas; a preocupação com a formação dos enfermeiros; o grande cuidado
com os registros administrativos, estatísticos e clínicos, entre outros.
Sua atuação institucional incluiu a organização da “Assistência aos
Alienados”, mais tarde Serviço Nacional de Assistência aos Psicopatas,
tendo redigido, em 1903, uma proposta de reforma do Hospício Nacional e
insistido junto ao governo para a aprovação da legislação federal de
assistência aos alienados, promulgada em 22/12/1903.7,8
Sua extensa obra escrita abrangeu várias
áreas de interesse; inicialmente, publicou estudos nas áreas de
sifiligrafia, dermatologia, infectologia e anatomia patológica. A
seguir, concentrou-se cada vez mais nas doenças nervosas e mentais, em
descrições clínicas e terapêuticas, escreveu sobre modelos assistenciais
e sobre a legislação referente aos alienados, discutiu a nosografia
psiquiátrica e estudou as histórias da medicina e da assistência
psiquiátrica no Brasil. Tinha especial interesse pela então chamada
“psiquiatria comparada”, ou seja, as manifestações das doenças mentais
em culturas diversas, como atesta a sua correspondência com Emil
Kraepelin.9
Seu espírito aberto e inquieto não
ignorou a psicanálise; tendo domínio do alemão, conhecia as obras de
Freud e tinha uma avaliação crítica delas. Numa resenha em que elogiou o
livro de Franco da Rocha, “O pansexualismo na doutrina de Freud”
(1920), referiu que a Sociedade Brasileira de Neurologia vinha
promovendo palestras de divulgação da psicanálise e comentou, com sua
ironia peculiar, que esta era pouco conhecida no país porque “No Brasil,
em geral os colegas, em obediência à lei do menor esforço, aguardam que
as idéias e as doutrinas passem primeiro pelo filtro francês para que
nos dignemos a olhá-las contra a luz (…)”.10
Ao longo de toda sua vida, participou de
muitos congressos médicos e representou o Brasil no exterior, na Europa e
no Japão. Foi membro de diversas sociedades médicas e antropológicas
internacionais; fundou, em colaboração com outros médicos, os periódicos
Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1905), Arquivos Brasileiros de Medicina (1911) e Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro (1930) e a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1907).
Finalizando, para melhor entender a
atuação de Juliano Moreira deve-se recordar que, nas primeiras décadas
do século XX, a medicina brasileira acreditava ser capaz de dirigir o
processo de modernização e sanitarização do país. Assim também cria
Juliano Moreira e sua atuação foi coerente com esta visão; para ele, o
principal papel da psiquiatria estava na profilaxia, na promoção da
higiene mental e da eugenia. Em que pese o caráter francamente
intervencionista deste projeto médico, não se pode negar o brilhantismo,
a coragem e a originalidade deste fundador da psiquiatria brasileira.
Ana Maria Galdini Raimundo Oda e Paulo Dalgalarrondo
Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
Assinar:
Postagens (Atom)