terça-feira, 24 de abril de 2012

Músicas desse mundo

Hoje, 24/04/2012, ouvi um diálogo entre duas pessoas sobre uma determinada música de Edson Gomes, compositor e cantor de reggae.
Um rapaz cantarola uma música do referido cantor, e pergunta à sua colega de trabalho se ela também gostava desse estilo musical. A moça respondeu logo: " Você sabe que sou cristã(entenda evangélica) e que não ouço essas músicas." O rapaz tentou argumentar que Edson Gomes também era evangélico(não sei qual o credo religioso dele), mas a colega dele ficou mais indignada ainda, e disse que isso não podia ser: homem rasta e canta reggae. Isso está fora do padrão do "nosso mundo". Rsrsrs
Conheço as músicas de Edson Gomes há mais de 20 anos, desde o seu primeiro disco. Antes mesmo de ser crente batista, eu já me indentificava com suas composições. Também achava interessante ele usar alguns versículos bíblicos para contextualizar suas idéias.
Até hoje ouço suas músicas e quando dou aula, trago sua referência musical e ideológica para sala de aula. Penso que suas composições falam da questão social do negro, de modo significativo.

Enquanto eles dialogavam, eu fiquei pensando: As letras das "nossas músicas"(entenda música gospel) nos levam à fazer alguma reflexão sobre nosso contexto histórico/social? Quando falam de poder, empoderam?

Parece que quando "nos convertemos", anulamos nossa identidade, e porque não dizer, até nossa nacionalidade. Passamos a conhecer e a nos apropriar da história dos judeus desde o seu inicio. Sua cultura,  geografia, as músicas, danças; nos apropriamos de alguns dos seus  símbolos: Estrela de Davi, o shofar, o candelabro de sete braços, etc. Mas lamentavelmente rejeitamos, muitas vezes,  a nossa própria história. Não nos identificamos com nossa cultura, principalmente se for algo ligado à cultura afrobrasileira(aprendemos a demonizar tudo o que não é da cultura ocidental branca). A ideologia de branquitude no Brasil é tão forte, que, alguns negros evangélicos, muitas vezes, passam a ter sentimento xenofóbico sobre sua própria cultura. E eu me pergunto: a quem interessa isso?
Crente não gosta de samba, de pagode, de reggae. Esses ritmos não servem para glorificar a Deus! As músicas mais lentas e de preferência de matriz européia e do sul dos EUA, do período do século XIX,  sim.

Algumas pessoas se assustam quando digo que gosto de pagode(óbvio que gosto do ritmo, a letra é outra coisa); também gosto de sambar. Vixi! Crente não samba! Mas pode dançar um ritmo da cultura judaica, tavez.

Biblicamente falando, Jesus nasceu, viveu e morreu judeu. Idem para seus primeiros discipulos e o apóstolo Paulo. Sabemos que o judeu antes de assumir sua nacionalidade, primeiro assume que é judeu. Ou seja, sua identidade histórica, cultural e espiritual vêm primeiro.

A quem interessa que eu, enquanto negra e crente batista não tenha identidade? Que eu não me apropie da minha história e cultura a partir da leitura bíblica? 

Obrigada, Senhor Jesus, pela Tua palavra que é lâmpada para os meus pé e luz para o meu caminho.

"E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará". (Jo 8.32)








2 comentários:

  1. Parabéns, Gecélia, pela excelente reflexão. Escrever mais alguma coisa sobre o que vc disse seria redundante,pois concordo plenamente com suas palavras. Deus continue te usando como instrumento para nos conduzir a uma reflexão sobre estes temas.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Gicélia pela iniciativa. Voce tem sido nossa parceira nas ações da Reparação. Onde tem racismo e discriminação, temos que combater, com todas as pessoas comprometidas com a liberdade. Voce é uma delas.

    Ailton Ferreira, secretário da Reparação

    ResponderExcluir