Mais um momento na minha vida em que só tenho que agradecer ao Senhor da Glória!
Evidente que isso é resultado de muita pesquisa, da chamada SOLIDÃO INTECTUAL(que muitas vezes me assusta), mas o resultado é positivo.
Gicélia Cruz

Esse blog é para compartilhar experiências vividas por negras e negros que, na Diáspora Africana no Brasil, passaram a professar a fé protestante. Vivências na área da religiosidade, educação, política e afins, podem e devem ser compartilhadas afim de que possamos refletir sobre o crescente número de negros que se dizem evangélicos.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
sábado, 5 de janeiro de 2013
Kabengele Munanga: "A educação colabora para a perpetuação do racismo"
Kabengele Munanga: "A educação colabora para a perpetuação do racismo"
http://negrosnegrascristaos.ning.com/profiles/blog/show?id=2232714:BlogPost:254811&xgs=1&xg_source=msg_share_post
Nascido no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo, em 1942, o professor de Antropologia da Universidade de São Paulo Kabengele Munanga
aposentou-se em julho deste ano, após 32 anos dedicados à vida
acadêmica. Defensor do sistema de cotas para negros nas universidades,
Munanga é frequentemente convidado a debater o tema e a assessorar as
instituições que planejam adotar o sistema. Nesta entrevista, o
acadêmico aponta os avanços e erros cometidos pelo Brasil na tentativa
de se tornar um país mais igualitário e democrático do ponto de vista
racial.

CartaCapital: O senhor afirma que é difícil definir quem é negro no Brasil. Por quê?
Kabengele Munanga: Por
causa do modelo racista brasileiro, muitos afrodescendentes têm
dificuldade em se aceitar como negros. Muitas vezes, você encontra uma
pessoa com todo o fenótipo africano, mas que se identifica como
morena-escura. Os policiais sabem, no entanto, quem é negro. Os
zeladores de prédios também.
CC: Quem não assume a descendência negra introjeta o racismo?
KM: Isso
tem a ver com o que chamamos de alienação. Por causa da ideologia
racista, da inferiorização do negro, há aqueles que alienaram sua
personalidade negra e tentam buscar a salvação no branqueamento. Isso
não significa que elas sejam racistas, mas que incorporaram a
inferioridade e alienaram a sua natureza humana.
CC: O
mito da democracia racial, construído por Gilberto Freyre e vários
intelectuais da sua época, ainda está impregnado na sociedade
brasileira?
KM: O
mito já desmoronou, mas no imaginário coletivo a ideia de que nosso
problema seja social, de classe socioeconômica, e não da cor da pele,
faz com que ainda subsista. Isso é o que eu chamo de “inércia do mito da
democracia racial”. Ele continua a ter força, apesar de não existir
mais, porque o Brasil oficial também já admitiu ser um país racista.
Para o brasileiro é, porém, uma vergonha aceitar o fato de que também
somos racistas.
CC: O senhor observa alguma evolução nesse cenário?
KM: Houve
grande melhora. O próprio fato de o Brasil oficial se assumir como país
racista, claro, com suas peculiaridades, diferente do modelo racista
norte-americano e sul-africano, já é um avanço. Quando cheguei aqui há
37 anos, não era fácil encontrar quem acompanhasse esse tema. Hoje, a
questão do racismo é debatida na sociedade.
CC: O sistema de cotas deve ser combinado com a renda familiar?
KM: Sempre
defendi as cotas na universidade tomando como ponto de partida os
estudantes provenientes da escola pública, mas com uma cota definida
para os afrodescendentes e outra para os brancos, ou seja, separadas.
Por que proponho que sejam separadas? Porque o abismo entre negros e
brancos é muito grande. Entre os brasileiros com diploma universitário, o
porcentual de negros varia entre 2% e 3%. As políticas universalistas
não são capazes de diminuir esse abismo.
CC: Somente os estudantes vindos da escola pública são incluídos nas cotas?
KM: Sim, com exceção da Universidade de Brasília (UnB).
Lá, as cotas não diferenciam os que vêm da escola pública e os da
particular. Porém, em todas as universidades o critério é uma
porcentagem para os negros, outra para os brancos e outra para os
indígenas, todos provenientes da escola pública. Dessa forma, os
critérios se cruzam: o étnico e o socioeconômico. Tudo depende da
composição demográfica do estado. Em Roraima, por exemplo, sugeri que se
destinasse um porcentual maior para a população indígena, proporcional à
demografia local.
CC: Quantas universidades adotaram o sistema de cotas no Brasil?
KM: Cerca
de 80. É interessante observar que há muita resistência nas regiões
Norte e Nordeste. Lá eles ainda acreditam que a questão seja apenas
social.
CC: O sistema deve passar por avaliação para definir a sua renovação ou suspensão?
KM: Qualquer
projeto social não deve ser por tempo indeterminado. No sistema em
vigor, algumas universidades estabeleceram um período experimental de 10
anos, outras de 15. Posteriormente, vão avaliar se seguem adiante.
CC: Em sua opinião, por que a Universidade de São Paulo ainda não aprovou as cotas?
KM: A
USP poderia ter sido a primeira universidade a debater o sistema,
porque aqui se produziram os primeiros trabalhos intelectuais do Sudeste
que revelaram o mito da democracia racial. Como é uma universidade
elitista, ficou presa à questão de mérito e excelência. Não é oficial,
mas está no discurso dos dirigentes. A outra refere-se à questão do
mérito. Eles ainda acreditam que o vestibular tradicional seja um
princípio democrático. De certo modo acredito que a Universidade de São
Paulo ainda esteja presa ao mito da democracia racial. Entre as
universidades paulistas, apenas a Federal de São Paulo adotou as cotas. A
Unesp também está de fora.
CC: O racismo é uma ideologia. De que forma podemos desconstruí-la? Qual o papel da escola?
KM: Como
todas as ideologias, o racismo se mantém porque as próprias vítimas
aceitam. Elas o aceitam por meio da educação. É por isso que em todas as
sociedades humanas a educação é monopólio do Estado. Falo da educação
em sentido amplo, ou seja, aquela que começa no lar. A socialização
começa na família. É assim que, enquanto ideologia, o racismo se mantém e
reproduz. A educação colabora para a perpetuação do racismo.
CC: A escola brasileira está preparada combater o racismo?
KM: As leis 10.639 e 11.645
tornam obrigatório o ensino da cultura, da história, do negro e dos
povos indígenas na sociedade brasileira. É o que chamamos de educação
multicultural. As leis existem, mas há dificuldades para que funcionem.
Primeiro é preciso formar os educadores, porque eles receberam uma
educação eurocêntrica. A África e os povos indígenas eram deixados de
lado. A história do negro no Brasil não terminou com a abolição dos
escravos. Não é apenas de sofrimento, mas de contribuição para a
sociedade.
CC: Uma estudante angolana foi assassinada recentemente em São Paulo, mas a mídia não deu a devida atenção. Por que isto acontece?
KM: A
imprensa é um microcosmo da sociedade e ignora, ou finge ignorar, o
racismo. Por isso, quando ocorre um fato desta natureza, não o julga
devidamente. Mas a mídia brasileira também não dedica espaço para o
continente africano.
Assinar:
Postagens (Atom)